Por Leonardo Fontes /24 Setembro, 2007
Michel Lent, criador da agência 10´Minutos, especializada em marketing para web, e autor do blog ViuIsso?, participou no dia 2 de Outubro do Alternativa Web 2007, quando ministrou a palestra “Web 2.0 e as Novas Fronteiras do Mercado e da Profissão”.
Para entender um pouco do assunto, peguei essa entrevista por e-mail feita por Leonardo Fontes com Lent, onde falaram sobre o funcionamento da agência, o novo profissional do marketing e perspectivas para o futuro da internet. Você está no mercado de comunicação na web, mas especificamente no planejamento estratégico e marketing para mídias interativas, desde 1996, quando criou a 10´Minutos. Quais são as principais diferenças entre o mercado da época e agora, 11 anos depois? As tecnologias mudaram mais que a cultura?
Diria o contrário. A cultura mudou mais do que a tecnologia. Flash vai Flash vem, a tecnologia é sim importante, mas mais importante é a massa crítica: pessoas usando a internet. Esta é a grande diferença 11 anos depois.
Que campanhas da 10´Minutos você destacaria como exemplos de sucesso? Nos primórdios da Web lançamos o site do Ronaldinho e aquilo foi um marco para a época. Demos vários pequenos passos com clientes desde então. Mas recentemente, desde 2005, o foco da 10′Minutos tem sido em campanhas publicitárias usando conteúdo gerado por usuários e, nesse sentido, fomos pioneiros em diversas frentes. Com FaleBenQ fizemos a primeira ação com vídeos gerados por usuários do país. Um estádio do Morumbi virtual lotou com 8 mil pessoas em 48 horas concorrendo a ingressos para o show do U2. E este ano estamos passeando pelo mundo a convite de Fanta Mundo e um site mash-up usando Google Maps em queos usuários colocam suas próprias fotos pelo planeta.
Explica um pouco como funciona a 10´Minutos, desde o processo de atendimento ao produto final. Que tipos de profissionais estão envolvidos, que processos são desencadeados na criação de uma campanha para web?
São três áreas envolvidas: atendimento/novos negócios; planejamento/mídia; criação/produção. A principal variável a ser definida em uma campanha Web é a variável de retorno de investimento que vai determinar o sucesso/fracasso da ação. Esta variável muda de campanha pra campanha e precisa ser definida antecipadamente para se trabalhar de forma adequada com as expectativas.
Que conhecimentos e habilidades o novo profissional do marketing precisa para trabalhar com web? Existe de fato uma grande mudança de paradigma?
Há uma mudança de linguagem e de ferramentas. E esse mix gera sim o que se pode chamar de um novo paradigma. Eu diria que o novo profissional de marketing é aquele que já vem com a compreensão desta linguagem e destas ferramentas em seu DNA e trabalhar com Web para ele é tão natural ou mais do que trabalhar com outros meios. Podemos dizer que há duas gerações convivendo atualmente: as migrantes e os nativos. Nativos são aqueles que já nasceram dentro da cultura digital. O migrantes são aquelas que nasceram dentro da cultura da comunicação tradicional e precisam agora se adaptar ao novo mundo. Como se adaptar? Usando, usando, usando.
Quais são os atrativos da internet para quem deseja anunciar nela?
Em resumo: a possibilidade de se medir resultados. É um meio que mistura o melhor de todos os mundos: a comunicação para grandes massas, de forma absolutamente segmentada e medindo em tempo real o retorno da a ação.
E porque a internet ainda ocupa uma fatia tão pequena do bolo de investimentos?
Porque o mundo ainda é dominado pela geração dos ‘migrantes’ que não têm o DNA digital e portanto não estão tão familiarizados com o meio.
Como mudamos esse quadro?
Mostrando resultados para os migrantes e esperando que os nativos ocupem mais e mais cargos de decisão. Ou seja, o futuro será, sim ou sim, digital.
Em que os blogs, que começaram o seu boom mundial em 1998/99, e mais recentemente desencadearam uma realidade, digamos, mais profissional no Brasil, podem ser utilizados por seus objetivos na 10´Minutos? Como eles podem melhorar a comunicação entre empresas e clientes?
Acho que blogs são sinônimo de democratização da publicação e transparência. Se usados de forma inteligente, podem ser revolucionários.
Existem regras estabelecidas para que as empresas que desejam investir em mídia interativa consigam penetrar, eficientemente, em um mundo cada vez mais user made content? Como conquistar esse cliente que produz seu próprio universo?
Veja, o cliente que produz seu próprio universo também passa por pontos “populares”. Seja em uma ferramenta de pesquisa como o Google ou procurando notícias em um portal, ou mesmo em sua caixa de email, eles são encontráveis. E para trabalhar informação nestes canais há sim regras estabelecidas.
Você vê uma real dicotomia, uma separação conceitual irreversível, entre a nova mídia e as tradicionais? A briga blogs versus Estadão, resultará, necessariamente na extinção de uma das mídias?
Não acredito em extinção mas em mutação. As mídias terão que mudar. Já estão mudando para se adaptar ao que vem de novo.
Se você fosse um apostador incurável, em que mudanças fundamentais você colocaria seu cacife? Para um exercício de futurologia, o que devemos esperar?
A descentralização da internet e o fim do computador como ferramenta central de acesso a esse mundo de conteúdo. Viveremos em um mundo de telas de diversos tamanhos, cada uma para um grupo de funções, todas elas interativas.
Você bloga no ViuIsso? desde 2004, como tem sido a experiência? Até que ponto a prática diária de blogar influencia seu dia-a-dia na agência?
Comecei o blog na realidade como uma forma de me condicionar a pesquisar e estudar constantemente sobre as novidades do mercado e para centralizar em um lugar as minhas referências para consulta futura (minha e dos outros). Minha surpresa foi a importância que o blog tomou, o número de visitas e as conexões de mercado que fiz em função dele. Percebi que muita gente passou a me relacionar mais com o blog do que com a meu histórico profissional ou minha agência. Talvez pela “isenção” que o blog represente, sendo um espaço em que eu falo essencialmente em meu nome e não defendo nenhum interesse mais corporativo.
Você lê mais blogs do que os veículos de massa? A propósito, você concorda com essa diferenciação, blogs também não seriam, hoje, veículos de massa, considerando que existem alguns com um nível de visitação/leitura bem maior que jornais impressos e emissoras de rádio, por exempo?
Pois é. É o que eu estava pensando ao ouvir a pergunta. Pensando em veículos “tradicionais” x blogs, acho que a diferença realmente vai deixando de existir na medida direta da importância, tempo de existência e audiência de determinados blogs. Um veículo que eu leio todos os dias, por exemplo, é o BlueBus que pode ser considerado “tradicional” pois está aí há mais de 10 anos mas é e sempre foi, em essência, um blog.
Que blogs você recomenda para quem quer saber mais sobre marketing e comunicação intererativa?
No começo de outubro, você faz palestra em Fortaleza sobre “A Web 2.0 e as novas fronteiras do mercado e da profissão”. Quais são suas expectativas?
Estou muito animado com a viagem pois será minha primeira vez em Fortaleza. Ansioso para conhecer o mercado e esperando que a minha apresentação seja relevante para a turma daí.
post by Carol Braga